Catasetum lanciferum

 

Algumas orquídeas se destacam pelo tamanho avantajado de suas flores, outras por suas formas exuberantes, e outras por suas cores contrastantes e chamativas. Porém, a julgar por estes quesitos, a planta do dia deveria ser desprezada, descartada e até pisoteada. É pequena, possui formato esquisito e suas cores são neutras e escuras.

Mas, como sempre, existem muitas pessoas que, como eu, curtem e cultivam estas plantas, extraindo uma gigantesca beleza da mais pura excentricidade das mesmas. Estou falando do estupendo Catasetum lanciferum

 

… o Catasetum barbudo do Cerrado

 

Catasetum é um gênero da família Orchidaceae, composto por mais de 150 espécies originárias da América Latina, sendo que mais da metade são brasileiras. Em nosso país as plantas deste gênero são encontradas com mais frequência na floresta amazônica e no cerrado de Mato Grosso e Brasília.

Este gênero foi descrito em 1822 pelo renomado botânico alemão Karl Sigismund Kunth (1788 – 1850), que se celebrizou pelo trabalho pioneiro no estudo da sistemática das plantas dos continentes americanos.

 

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Karl Sigismund Kunth

Foto retirada da internet – Site:
http://www.bbaw.de/die-akademie/akademiegeschichte/historischer-kalender/maerz

 

 

Kunth dedicou mais de 20 anos de sua vida à tarefa de classificar as mais de 70.000 espécies de plantas, que tinham sido recolhidas nas Américas pelos coletores Friedrich Wilhelm Heinrich Alexander von Humboldt (alemão), e Aimé Jacques Alexandre Goujaud Bonpland (Francês).

A obra mais famosa de Kunth é um marco da literatura botânica, e foi publicada em sete volumes. O nome é fácil: “Nova genera et species plantarum quas in peregrinatione ad plagam aequinoctialem orbis novi collegerunt Bonpland et Humboldt”. Decoraram?

O nome Catasetum deriva da latinização do grego: kata, que significa “para baixo”, e seta, que significa “cerdas”, em referência ao formato da coluna do labelo.

As plantas do gênero Catasetum são exóticas e tem algumas particularidades muito interessantes:

Particularidade 1:

Diferente dos demais gêneros, em que as flores são todas hermafroditas, os Catasetum possuem flores masculinas, femininas e raramente hermafroditas. Isto também ocorre com os gêneros Mormodes e Cycnoches.

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Imagem retirada da internet - Site:
pt.pngtree.com/freepng/male-female-sign_2911207.html

 

Particularidade 2:

As flores femininas de todas as espécies de Catasetum são praticamente iguais, verdes e com forma arredondada. Já as masculinas normalmente são maiores, bem coloridas e bem diferentes entre as diversas espécies. É através das flores masculinas que podemos distinguir as distintas espécies deste gênero.

 

Particularidade 3:

Acredita-se que a quantidade de iluminação a qual a planta é submetida, modifica o sexo das flores de Catasetum. As femininas costumam aparecer nas partes mais elevadas das árvores, que recebem iluminação intensa, e as masculinas aparecem nas porções inferiores dos hospedeiros, onde recebem menos luminosidade. Como as flores masculinas são mais valorizadas, por seu colorido, o cultivador de plantas deste gênero deverá reduzir a luminosidade do seu orquidário.

 

Particularidade 4:

As flores hermafroditas são estéreis, ou seja, não produzem sementes férteis. Para que ocorra a reprodução, é necessário transferir polínias de uma flor masculina para o estigma de uma flor feminina. Somente assim poderemos gerar sementes férteis.

 

Particularidade 5:

No século XIX, o inglês Charles Darwin, conhecido mundialmente por sua teoria da evolução das espécies, documentou que algumas orquídeas possuem truques eficazes para fazer a polinização. No caso do gênero Catasetum, sua fundamental peculiaridade é “atacar” os agentes polinizadores, garantindo sua preservação.

 

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A Origem das Espécies  –  Charles Darwin

Foto retirada da internet – Site:
http://www.anarquista.net/origem-das-especies-charles-darwin/

 

As flores masculinas de Catasetum possuem a capacidade de disparar suas polínias sobre as costas dos insetos, quando estimuladas pelas vibrações geradas pelos passeios dos mesmos sobre seu labelo. Algumas espécies conseguem arremessar as polínias a mais de 2 metros de distância. Depois que as polínias se fixam no dorso do inseto, é só esperar pela sorte. Uma visitinha a uma flor fêmea é o suficiente para iniciar o processo reprodutivo. Apenas como curiosidade, sugiro que vejam no site abaixo um exemplo deste processo (muito interessante):

https://www.youtube.com/watch?v=DgMRQzBEClE

 

Particularidade 6:

Inflorescência com flores de ambos os sexos é um caso raro. Normalmente as hastes florais tem todas flores femininas, ou todas masculinas ou ainda todas hermafroditas.

 

Particularidade 7:

Na grande maioria das espécies de Catasetum, as plantas apresentam períodos de crescimento e de dormência. Eles florescem antes do período de repouso, quando perdem as folhas.

 

Agora finalmente vamos ao estudo da planta do dia, o Catasetum lanciferum.

Trata-se de uma planta de hábito epífita, originária principalmente do bioma Cerrado da região sudeste da Bahia, de Minas Gerais e da região fronteiriça deste estado com São Paulo, em altitudes que variam desde 300 até 800 metros.

 

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Bioma Cerrado

Imagem retirada da internet – Site:
http://www.caliandradocerrado.com.br/2010/05/vegetacao-tipica-do-cerrado.html

 

 

Esta orquídea foi descrita em 1841 pelo botânico inglês John Lindley (1799 – 1865), provavelmente o mais renomado de todos os orquidólogos.

Lindley descreveu centena de gêneros e espécies, publicou muitos artigos e livros científicos, participou na fundação da revista Gardener’s Chronicle, e em 1857 foi agraciado com a Medalha Real, homenagem da Real Sociedade de Londres para pessoas com importantes contribuições para o avanço do conhecimento da Natureza.

Em 1925 o botânico e taxonomista alemão Friedrich Richard Rudolf Schlechter (1872 – 1925), reclassificou esta planta dando-lhe o nome de Catasetum appendiculatum.

Schlechter foi um dos mais renomados orquidófilos da história, tendo publicado muitos trabalhos técnicos. A ele devemos a proposição de cerca de mil espécies da família Orchidaceae.

Porém, como existe uma ampla discussão sobre a orquídea do dia, que muitos preferem classificar como Catasetum barbatum, o qual também tem como sinônimo o nome Catasetum appendiculatum, eu optei por manter o nome mais conhecido desta planta, ou seja, Catasetum lanciferum.

Embora sejam realmente muito parecidas, estas plantas possuem algumas pequenas diferenças morfológicas, principalmente no labelo, e cada uma destas espécies tem sua área de abrangência bem definida, como mostrado abaixo:

  • Catasetum barbatum: originário dos estados de Amapá, Amazonas, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Roraima e Tocantins, em altitudes que variam desde o nível do mar até 200 metros.
  • Catasetum lanciferum: como já citado, é originário da região sudeste da Bahia, de Minas Gerais e da região fronteiriça deste estado com São Paulo, em altitudes que variam desde 300 até 800 metros.

Para completar a confusão, existe ainda o Catasetum gladiatorium, originário dos estados de São Paulo, Mato Grosso e Goiás, que também é referenciado como sendo um sinônimo para Catasetum appendiculatum.

Sinonímia: não tem (não estou considerando o nome Catasetum appendiculatum como válido).

Não consegui descobrir a etimologia do nome desta espécie, “lanciferum”. Acredito que seja uma referência ao amplo espinho em forma de lança que esta planta possui em seu labelo. Agradeço se alguém tiver informações adicionais e puder compartilhar.

 

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Gif retirado da internet – Site:
http://www.arquibancadacolorada.com.br/blog/afinal-o-que-esta-realmente-certo/interrogacoes-3/

 

 

É uma planta robusta, com forma de crescimento simpodial, com curto e grosso rizoma e com raízes cobertas por tecido velame. Seus pseudobulbos são grandes, grossos e fusiformes. Formato típico de “charuto” e tamanho que pode chegar a 20cm de comprimento por 4,5cm de diâmetro, propício para acúmulo de grandes reservas de nutrientes, visando poder suportar o longo período de dormência.

As folhas se originam na base dos bulbos, em grupos que 4 a 10 unidades. São grandes, finas e lanceoladas, podendo chegar a 40cm de comprimento por 7,5cm de largura.

As inflorescências também brotam da base dos pseudobulbos. Longas hastes arqueadas que podem chegar a 40cm de comprimento, podendo suportar até 25 lindas flores ressupinadas em sua metade terminal.

As flores normalmente possuem entre 3,5 e 5,4cm de diâmetro, e apresentam cores variadas. Sépalas mais largas que as pétalas, e em ambas normalmente predomina uma tonalidade escura de verde, densamente pintalgada de marrom castanho, lembrando a típica roupa utilizado pelo exército brasileiro, visando camuflagem nas florestas.

 

No labelo, onde predomina a mesma cor, se destacam as típicas pilosidades brancas da espécie. Sem dúvida uma flor linda, exótica e cativante.

As flores fêmeas são menores e menos chamativas do que as masculinas. Possuem aproximadamente 3,0cm de diâmetro, e apresentam tons variados de verde em todas as estruturas florais.

Abaixo relaciono algumas dicas de cultivo:

  • Sugiro cultivar o Catasetum lanciferum fixado em tronco ou casca de árvore, com muitas raízes expostas. Esta planta precisa de grande aeração nas raízes.
  • Se sua opção for cultivo em vaso ou caixeta, então utilize um substrato confeccionado com partes iguais de casca de pinus, carvão vegetal e esfagno.
  • Muitos produtores utilizam garrafas PET cortadas ao meio e com furos no fundo para cultivo desta planta. Veja a foto abaixo. O fato da garrafa ser transparente ajuda a planta a realizar a fotossíntese pelas raízes.

 

Imagem relacionada

Catasetum confusum

Foto retirada da internet - Site:
https://catasetum.wordpress.com/2013/01/19/catasetum-confusum-11-1213/

 

  • Cuidado com água acumulada no fundo. O substrato deve ser arejado e drenar a água imediatamente.
  • A rega é a parte mais critica no cultivo desta planta. Após a florada as folhas caem e inicia-se o período de dormência da planta. Nesse momento devemos suspender a rega e não deixar no tempo, sujeita a chuvas, sob pena de perder a mesma por apodrecimento. Se você perceber que os bulbos tem aparência ressecada, borrife apenas um pouquinho de água em suas raízes. Quando a planta cessa o repouso e entra em atividade, com emissão de brotos e raízes, é hora de regar e adubar em abundância. Importante: regue apenas as raízes da planta, evitando molhar bulbos e folhas.
  • O Catasetum lanciferum é oriundo de regiões com grandes variações climáticas entre o dia e a noite. Por este fato é muito recomendado para quem mora nas regiões sudeste e sul do Brasil.
  • Recomendo cultivo com 50% de sombreamento, e temperaturas entre 10 e 35 graus.

Aqui no sul floresce normalmente no começo do verão e sua floração dura em torno de 15 dias.

A seguir relaciono algumas fotos ilustrativas:

 

 

Catasetum lanciferum 2

Catasetum  lanciflorum

Planta de minha coleção

Crédito fotográfico:  Juan Pablo Heller

 

 

 

Catasetum lanciferum 4

Catasetum  lanciflorum

Planta de minha coleção

Crédito fotográfico:  Juan Pablo Heller

 

 

 

E agora mais algumas fotos, estas retiradas da internet:

 

 

 

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Foto retirada da internet - Site:
https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-754175294-orquidea-catasetum-lanciferum-_JM

 

 

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Foto retirada da internet - Site:
www.flickr.com/photos/evolvee/6958879608

 

 

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http://picssr.com/photos/evolvee/interesting/page3?nsid=64651504@N05

 

 

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www.flickr.com/photos/marcelofarofa/4208081997

 

 

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Foto retirada da internet - Site:
http://bluenanta.com/natural/35516/species_detail/

 

 

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Foto retirada da internet - Site:
www.flickr.com/photos/lucas_assis/1240112239

 

 

 

IMAGENS: fonte pesquisa GOOGLE

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IMAGES: GOOGLE search

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6 pensamentos sobre “Catasetum lanciferum

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